Assisti ao filme “A Vida em Si”, em cartaz nos cinemas, e fiquei ainda mais introspectivo. O diretor Dan Fogelman, que também fez um belíssimo trabalho no drama da TV “This Is Us”, usa em seu longa a técnica do “narrador pouco confiável”. Trata-se de uma estratégia do roteiro para desconstruir a narrativa convencional e acrescentar reviravoltas ao longo da história, o que torna a produção completamente imprevisível. É assim, dividido em quatro capítulos interligados entre si, que o diretor vai começar mostrando o relacionamento de um casal (Oscar Isaac e Olivia Wilde, que estão ótimos em cena, inclusive) e como um fato trágico ocorrido na vida deles pode ter influenciado outras pessoas e toda a sua geração na família. Os capítulos perpassam diversas décadas e continentes, desde as ruas de Nova York até o interior da Espanha, e mostra como diferentes pessoas acabam se conectando, seja pelo caos ou pelo amor, a um fato por meio de um evento marcante.
Essa ideia do “narrador pouco confiável” está presente na narrativa não linear e subtextual do filme e também no diálogo da protagonista, que, em sua tese na faculdade, discursa sobre como a vida em si pode ser livre e desconstrutiva. Ela reflete que, se a sua vida tivesse um narrador em particular, como ocorre nos filmes, ele não poderia ser nada confiável porque, a todo momento, acontecem fatos novos, e ele não poderia saber ou prever o que sucederia a todo momento. Que nossas vidas não são guiadas pela previsibilidade e que, às vezes, o herói de agora pode ser o vilão de daqui a pouco, e vice-versa. Esse raciocínio, por mais que nos leve a uma montanha-russa de sentimentos, é real e inevitável. A todo momento acontecem fatos diferentes nas nossas vidas, em que tudo pode mudar – seja algo pequeno, como um desvio de rota na rua, o que faz você ter uma nova perspectiva de um lugar em que não passaria num primeiro momento, ou até mesmo algo mais grave, como um acidente, induzindo brusca e radicalmente a uma mudança total. E é nesse ponto que você pode ser o herói ou o vilão, em questão de segundos ir à glória ou à desonra.
O fato é: dentro da metalinguagem do roteiro que te faz pensar em sua vida, você vai se emocionar! O filme, que tem ótimas participações de Samuel L Jackson, Annette Bening e Antonio Banderas, tem nas artimanhas delicadas da montagem um direcionamento pra você refletir, sorrir feito um bobo e acabar se emocionando. Mesmo com o choque melancólico em algumas passagens – o que demonstra que a vida não é sempre um mar de rosas –, o humor leve e sem exageros te ajuda a balancear entre sorrisos e lágrimas. Sem contar que a trilha sonora também entra na metalinguagem e nos faz até querer escutar o CD de Bob Dylan, criticado por ele, idolatrado por ela.
A vida é assim mesmo… Um dia a gente ri, outro dia a gente chora. Entre altos e baixos, você no fundo sabe que tudo vale a pena e que, no fim, mesmo não dominando o seu narrador nada confiável, você vai conseguir. Já ouvi isso numa música, que “o tempo é rei, a vida é uma lição e que um dia a gente cresce, conhece nossa essência e cria consciência”. O legal disso tudo é que o amor está logo ali, pra vida fazer sentido e tudo ter coerência.
Confira o trailer: