O cenário, o figurino, a trilha e até os atores são lindos. Os anos 20 sempre foram belíssimos para a fotografia, não é mesmo? Mas esses são só alguns detalhes que deixam a produção mais atraente e sedutora. O que chama mais atenção mesmo é a riqueza de assuntos tão atuais numa série passada em tal época. Tudo bem que já existiam as mulheres progressistas que já trabalhavam duro, mesmo que perifericamente, para assegurar seus direitos num mundo dominado pelos homens. Porém, é por meio das boas histórias das personagens que identificamos as enormes e insuportáveis dificuldades de cada uma de se viver naquele mundo. Nas entrelinhas, as leis só ajudavam e davam razão aos homens. Casos de violência, dominação, assédio… desafios de ser mulher no cotidiano tão antigos que ecoam até hoje em qualquer lugar, em plena vida real.
Por mais que a série seja um novelão, desses com vários núcleos e subtramas interligadas que buscam o melodrama e a emoção o tempo todo, há uma constante reflexão das importantes premissas de luta femininas. E isso é excelente, pois um pai opressor, um marido violento, um chefe assediador, até uma senhora tradicionalíssima que diminui emocionalmente uma jovem e destrói seus sonhos, tudo isso é pauta até hoje. O machismo, a falta de liberdade, os relacionamentos abusivos e a submissão são temas que devem ser falados e discutidos, até mesmo nos meios de entretenimento, para que esse cenário possa um dia mudar. Infelizmente, a ficção só traz uma reflexão. Mais do que nunca, a nossa realidade precisa ser encarada com preocupação porque não dá para aceitar a tal regressão. Mulheres, não abaixem as cabeças, o arregacem as mangas, resistam como podem e sigam em frente na louvável luta contra a intolerância e a opressão.