Suas muitas tentativas de fugir da prisão e seu eventual sucesso já foram contados em uma autobiografia de 1969, que virou best-seller e que, na época, ficou quase cinco meses em primeiro lugar, vendendo 1,5 milhão de cópias apenas na França. Desde então, já foram 239 edições traduzidas para 21 línguas diferentes. A história também já foi contada no cinema, ganhando Hollywood em 1973, com Steve McQueen no papel principal e Dustin Hoffman como Louis Dega, um homem que Papillon promete defender dentro do cárcere em troca de auxílio financeiro para escapar da prisão.
Agora, o diretor Michael Noer e o roteirista Aaron Guzikowski recontam essa história fantástica de luta e de dor em toda sua glória. Em “Papillon”, que acaba de estrear nos cinemas, o francês Charriène é interpretado por Charlie Hunnam, enquanto o papel de seu parceiro Dega fica com Rami Malek. A escolha dos atores é certeira. A interpretação é intensa e crível, com boa sintonia entre os dois, que conseguem relatar a relação de proximidade e lealdade em meio a um inferno. O que não dá pra entender é por que uma nova versão da mesma história é criada para o cinema sem nenhuma novidade.
A justificativa seria na criação de um bom entretenimento para o século XXI, em que a luta pela sobrevivência e a busca constante pela esperança para não sucumbir a tamanhas atrocidades são desafiadoras e impressionantes. Quando Papillon vai para a solitária, por exemplo, o diretor consegue captar o exato sentimento do personagem. Numa sala de apenas cinco passos, só se ouve o barulho da respiração e das portas e grades. O desespero de estar na escuridão e a satisfação de ganhar a metade de um coco quando não se tem nada é algo rico que transcende a tela. Entre a solidão e a alucinação, vem o questionamento: “Você acha que a pessoa sabe quando está enlouquecendo ou é só uma ignorância abençoada?”. Ou até mesmo outra indagação: “Pelo quê você está vivendo?”. São perguntas que só a esperança e a vontade interminável pela liberdade são capazes de responder. Não se sabe até onde você seria capaz na luta por sua liberdade. A de Papillon foi até o impensável, o incalculável, o inacreditável. Uma história inimaginável e, ao mesmo tempo, de uma esperança interminável e admirável.
Confira o trailer de “Papillon”: