“Lucy”
Como um contraponto intelectual, o professor Norman (Morgan Freeman), especialista em faculdades mentais que explica a um grupo de pesquisadores e alunos o que poderia acontecer se o ser humano desenvolvesse o cérebro em níveis bem elevados, surge como a possível saída para a protagonista resolver seus problemas. Em fuga e à procura de Norman, Lucy se transforma num ser superpoderoso, capaz de comandar tudo por meio da mente, mas não vira uma justiceira, nem quer acabar com o tráfico de drogas ou com os vilões. Ela apenas vai usar todo o seu novo conhecimento para absorver o que existir dessa droga sintética e fazer um experimento extremo em si mesma.
E é esse conhecimento o mais fantasioso e encantador. Em certa parte do filme, Lucy questiona o professor: por que e para que aprendemos mais e mais na vida? Para termos mais conhecimento? Para onde vamos levar isso tudo se um dia vamos morrer? O discurso dele é que continuemos nessa busca incessante para ganharmos mais tempo e, assim, podermos saber, conhecer, compreender, entender, viver mais! Pra quê? Pra que cada um de nós deixe uma contribuição de conhecimento para o mundo.
Nossa vida é feita de escolhas, de muitas escolhas. A célula, como é demonstrado no filme, só tem duas: ser imortal – no caso do câncer, quando ela se torna autônoma – ou se reproduzir. Uma célula que passa a ser cancerígena tenta atravessar o tempo sozinha. Já a que se reproduz se perpetua por meio das vizinhas, a fantástica magia de viver em sociedade. Nunca tinha visto a vida das células sob essa ótica. E é essa escolha celular, de ser ou não ser tão generoso, que temos que fazer em nossa sociedade – uma dúvida constante entre o que chamamos de “bem” e de “mal”.
Lucy, uma mulher superpoderosa, que está querendo entender as mudanças em seu corpo, não tem mais tempo para o impasse entre a imortalidade e a reprodução. Nós, meros mortais, que já estamos cansados de saber como nosso corpo funciona, só temos um caminho a seguir entre os tais lados do bem e do mal: o de aproveitar esse mínimo tempo de existência que nos é dado e nos multiplicarmos feito células para darmos conta do recado, que é viver para deixar um legado.