O filme conta a história do menino Saroo (incrivelmente vivido pelo carismático ator mirim Sunny Pawar, cuja expressividade realística é de se espantar). Ele se desencontrou de sua família aos 5 anos, ao sair de casa com o irmão Guddu (Abhishek Bharate, outro que convence em cena) em busca de trabalho para auxiliar a mãe nas despesas do lar, já que eles vivem em meio à pobreza indiana. Perdido em uma estação ferroviária, Saroo acaba dormindo em um vagão e acorda com o trem em movimento, desembarcando em Calcutá, a 1.600 km de sua cidade natal. Ao desembarcar, o garotinho ainda enfrenta o desafio de não conseguir se comunicar com quase ninguém, por falar apenas hindi e não compreender bengali, o idioma local. É desesperador ver um ser tão mínimo defronte à infinitude do meio urbano da Índia. E o diretor de fotografia do longa, Greig Fraser, soube expor essa grandeza na tela muito bem. As várias tomadas aéreas são surreais. E a cena em que o garotinho está perdido no meio da multidão, numa estação de Calcutá, onde ele sobe num poste pra tentar enxergar melhor e gritar pelo seu irmão, é agonizante.
O que seria de nossas vidas se não fosse esse fiozinho de esperança, né? Por mais que essa parte do filme seja lapidada muito que rápido e instantaneamente, dá-se a perfeita ideia da revolta e do descontrole do jovem quando ele percebe que tem uma vida boa, mas se aflige pensando no que pode ter acontecido com sua pobre família. Ao cair a pesada ficha, como viver sob essa sombra do passado atormentando a memória? Só resta a esperança, por menor que ela seja, por mais inacreditável que possa ser esse reencontro.
Saroo se veste de crença, confiança e fé e vai em busca do que quer. Mas Victor Hugo já disse uma vez: “A esperança seria a maior das forças humanas se não existisse o desespero”. Voltaire também refletiu: “A esperança é um alimento da nossa alma ao qual se mistura sempre o veneno do medo”. O desespero e o medo existem, sim, no filme e na vida real. Mas o que seria da vida e dos roteiros reais e surreais do cinema se, segundo Charles de Gaulle, neste mundo, “o fim da esperança é o começo da morte”?
